Casos Reais: Reatividade e Agressividade em Cães
Chegou a hora de usar algumas dúvidas que vocês me mandaram no post anterior no blog e no Instagram para explicar na prática como pensar sobre os casos de Reatividade e Agressividade.
Casos reais fazem ficar ainda mais claro os pontos que trouxe nos textos anteriores.
Meu York é macho e tem 3 anos e late muito pra crianças q se aproximam dele, em qualquer lugar e
para algumas visitas em casa, já para idosos e pessoas de temperamento tranquilo ele não late...
O caso da Inês é muito comum. Alguns estereótipos ficam associados a algo não muito agradável pro cão, ainda mais quando há falha na socialização. Isso porque os cães não generalizam, eles discriminam: apresentar a mulheres, homens, idosos, crianças, cães de grande porte, cães de médio e pequeno porte, cão sem pelos e peludos, skates, bicicletas, diferentes tipos de piso…Isso são só alguns dos itens a serem apresentados aos cães de maneira POSITIVA!
Não é forçar e não é se acostumar! É SOCIALIZAR!
Mesmo que socializado, ainda sim o cães tem influência de suas experiências na rotina para determinar se aquele estímulo é bom ou ruim, se é algo a ser evitado ou não. Nada pessoal, os cães evitam aquilo que pode trazer ou já trouxe alguma associação indesejada, como no caso do York da Inês: crianças.
Crianças gritam, correm, pulam, puxam o rabo, amassam, apertam, esmagam, assustam, chegam de surpresa, enfim. Deu pra perceber os estímulos presentes com a figura da criança? Cães com qualquer sensibilidade a essas atividades infantis se tornarão reativos a elas, se não for feito um trabalho em cima disso.
E todo cão terá alguma sensibilidade a essas atividades, já que não fazem parte do repertório de comportamentos naturais dos cães e se tornam contraintuitivo a eles, sinalizando inclusive sinais de alerta. Ou seja, pate importante nesse processo de socialização é ENTENDER os cães e construir uma comunicação e conexão que faça sentido para ambas as espécies: humanos e cães.
Ou seja, RESPEITAR o espaço do cão é FUNDAMENTAL!
Caso contrário, o cão sente a necessidade de se defender desse estímulo e quando um cão não tem como fugir, muito comum com cães de pequeno porte que são facilmente carregados no colo, ele reage: late, rosna ou avança. Ele entendeu que a melhor defesa é o ataque.
Isso casa muito bem com a próxima dúvida:
eu tenho uma cachorra reativa. Ela é agressiva com a última que chegou em casa há uns 5 meses,
aproximadamente. E isso acontece quando a recém chegada invade o espaço dela. Incrível foi que descobri
essa mesma reatividade em mim. Eu já tinha consciência de que não suporto ter meu espaço invadido,
e percebo que esse comportamento da Lilica é espelho do meu.
Sua cachorra ficou agressiva com a cachorra recém chegada na casa justamente pelo mesmo motivo da resposta anterior: falta de respeito ao espaço individual e suas preferências latentes. E o mais interessante da reflexão dela é que ela conseguiu transpor essa reatividade em aprendizado: é a falta de respeito ao espaço do cão que nasce os comportamentos reativos e agressivos!
Uma ação que auxilia na prevenção e na melhora deste tipo de reatividade é a Suíte Canina (fiz video sobre isso neste meu vídeo no Youtube).
Isso porque instalamos dentro da casa um espaço exclusivo do cão, onde ele terá sua privacidade respeitada, seja de outros cães ou pessoas. Para casas com mais de um cão, isso é essencial ser aplicado, principalmente no momento de alimentação e de atividades. Caso contrário, se há um cão cheio de energia, o outro cão será o alvo de brincadeiras e de “encheção de saco” no seu ponto de vista. Cada cão é um indivíduo e merece ser respeitado de acordo. Isso não significa ACEITAR a reatividade e não fazer nada! Pelo contrário!
É atuar nos tópicos que mencionei nos posts anteriores. Alinhar condutas e ATUAR com treinamento na melhora dessa relação. Eles podem se dar muito bem e a cachorra mais velha não mais ver necessidade alguma de avançar, se assim percebe que isso não é mais um risco, graças ao gerenciamento e treinamento DOS TUTORES nesse processo.
Eu tenho 3 adotados! João o mais velho as vezes é reativo na guia. Em parques, solto é um lord. Guilherme late
pros outros porque quer se aproximar. Maria peguei adulta, está aprendendo a socializar..
late pra outros cães, mas em geral não é agressiva. O problema é que se um late os outros começam também
a agitar.
Algo que falei na LIVE sobre Reatividade e Agressividade foi:
comportamentos reativos de um cão são facilmente incorporados pelos demais cães.
Ou seja, para trabalhar com a reatividade INDIVIDUALIZAR é essencial. Um cão pode latir só porque o outro tá latindo e assim aprende a ser reativo, ainda mais nessa fase de socialização! Não deixe isso continuar! Individualize os processos: enquanto um precisa socializar o outro precisa de treino de reatividade.
Unir os dois pode te dar o dobro de trabalho num futuro próximo.
Entendendo que esses latidos do cão mais velho sendo para aproximar-se, pare de reforçar este comportamento, dando a oportunidade dele de se aproximar de outros cães latindo. Mas não adianta só “frustrar” o cão da interação! Tem que treinar o auto-controle dele, para que essa frustração seja tolerável e auxilie ele no processo de controle de ansiedade, oferecendo outros comportamentos positivos a serem demonstrados nesse momento.
Tia Carla, minha mamãe me resgatou da rua, é um desafio pra ela me entender, porque eu lato pra pessoas,
aumiguinhos e vou atrás de cãofusão, a culpa não é dela, mas também não é minha. Será da gente
ou só de um? Das ruas? Do antigo tutor que ela ficou sabendo que muito me MALTRATAVA? Tia Carla ajuda
minha mamãe a compreender melhor um cão que vem de rua, porque sou assim! Ah, e ela pediu pra avisar
através de você, eu e ela estamos melhor a cada dia! Bjs!
Se você se questiona e não consegue chegar a um lugar positivo de transformação e modificação comportamental, essas perguntas podem aniquilar sua confiança e alimentar a sua insegurança.
O processo inclui levantar antecedentes conhecidos, entender limiares de tolerância e de estímulos e estabelecer processo e etapas de Melhoria na Rotina, Relacionamento e Treinamento.
Invista nessa clareza: não há compreensão de técnica sem entender seus objetivos.
Vamos a ultima e importante dúvida:
Tenho um dogue alemão de 1 ano e 6 meses. A reatividade a outros cães começou a dar sinais aos 6 meses.
Quando ele vê ou simplesmente ouve um cão, ele fica em posição de alerta, morde os lábios, em algumas
situações puxa a guia em direção ao cão, em outras chora, e em outras pula e/ou morde a guia. Por ser um
porte gigante é sempre mais difícil de fazer a construção necessária dos treinamentos positivos. Ele apresenta
reatividade nos passeios de carro também, fica extremamente agitado se passarmos por um cão, mesmo que de
carro.Estamos em acompanhamento com veterinária comportamentalista, por ora sem medicação.
É normal nos questionarmos sobre a razão de tudo e todos comportamentos que nossos cães apresentam. Isso é até saudável, quando feita da maneira correta, para ajudar a ter CLAREZA e não nos deixar em um beco sem saída, frustrados e também reativos.
O primeiro aprendizado: a qualquer sinal de comportamento que você não queira que seja potencializado no seu cão, busque ajuda profissional o quanto antes. Quando ele começou a apresentar esses sinais, com 6 meses, ele ainda era filhote e ainda em fase de socialização. Seria possível iniciar algo já nos primeiros sinais para melhorar socialização e reatividade.
Mas hoje é sempre o melhor dia para começar. O que não foi feito antes não anula nosso papel de fazer algo hoje.
Pelo que descreveu, parece um cão bem ansioso e necessita de treinamento constante diário para o controle de ansiedade. O treino começa em casa e já unindo elementos do passeio neste treino, como guia e coleira. Que bom que está com acompanhamento de veterinária comportamentalista para entender bem o seu caso, mas a construção do treinamento diário e reavaliação da rotina é essencial e pede um acompanhamento mais frequente de um treinador para te auxiliar.
Algo que ela disse me chamou a atenção e traz um grande aprendizado final:
"...Por ser um porte gigante é sempre mais difícil de fazer a construção necessária dos treinamentos positivo."
Aqui, nesta frase, carrega ainda o que falamos na duvida anterior: a falta de clareza sobre o processo, as etapas e o que realmente inclui o treinamento positivo.
Duvidas assim são comuns, até porque é tudo muito novo: a Ciência do Comportamento Animal vem ganhando força nos últimos anos, mas ainda impera metodologias de trabalho de modificação comportamental com o uso de punições e desconforto, um trabalho que anula o bem estar do cão e suprime seus sinais corporais de comunicação.
Mas aí vem o dilema: como treinar meu cão sem punir? Como se ele passa na frente de outros cães e já reage? Como vou mostrar pra ele o que tem que ser feito neste momento?
Falei no ultimo post do blog sobre isso: entender os gatilhos de ansiedade e treinar em situações de não desequilíbrio.
Porque o meu mantra “No desequilíbrio não há aprendizagem” é mais do que um mantra, é ciência.
Somos também moldados pela sociedade a sermos reativos. A pensar no que fazer no olho do furacão, quando já temos um problema maior do que conseguimos lidar. Não temos uma chave automática de prevenir e a pensar nos problemas antes que eles apareçam.
Logo, o treinamento positivo parece até contraintuitivo com nossos processos automáticos. O que nos leva a necessidade de investir no que disse antes: CLAREZA. Quando você ENTENDE verdadeiramente a base metodológica do treinamento positivo e o que fazemos para alcançar os resultados, você APLICA de fato na rotina.
Entendendo que treinamento é relacionamento. Que os comandos não se tratam de obediência e sim de comunicação, uma ferramenta poderosa de controle de ansiedade. Que os cães se comunicam conosco e que isso merece ser valorizado e compreendido.
Espero que a leitura tenha ajudado! Ajudou? Comenta aqui! :)