Coluna #3 WOW PetCoaching: O Potencial da Frustração
Será que a frustração faz parte da vida e do treinamento de cães?
Por Carla Ruas dia em Blog
A frustração é a inimiga da motivação, é a barreira entre o resultado obtido e o resultado desejado. É o que nos faz esquecer dos sonhos, nos impede de continuar ou, no melhor dos cenários, nos redireciona para um resultado mais possível.
No fim das contas, ela sempre ganha um apelo negativo. Um grande erro. A vivência das frustrações é o que diferencia os maduros dos despreparados, separa os fortes dos fracos, os cães bem treinados dos apenas mimados.
A frustração é mais um dos sentimentos que cães e humanos compartilham. Ambos precisam vivenciar a frustração como fruto da libertação de suas potencialidades.
Precisamos aprender a tolerar a frustração. Ninguém vai amá-la, abraçá-la e desejar que venha mais vezes, mas é sim essencial saber que ela virá de vez em quando nos visitar e, não seria nada mal oferecer uma xícara de café, entender o porquê de sua inesperada visita e redirecioná-la para outra casa, pois aqui as suas questões já foram esclarecidas.
É possível notar que os pessimistas tem "motivação" nas frustrações mais alheias. Na espera do mundo ideal, tudo está fora de sua expectativa. Tudo fora do controle. A frustração é a visita que vira moradora, sem pagar aluguel.
E nos cães? Como seria?
Há um engano recorrente em pensar que a metodologia positiva baseia-se apenas em oferecer petiscos e mostrar um mundo cor de rosas.
Ser positivo não é ser permissivo. Cada ação do cão terá uma consequência, só não vamos aplicar métodos aversivos para isso.
A tolerância à frustração é importante para a vida de qualquer ser-vivo e, por isso, a metodologia é sustentável, e não uma fantasia.
Assim como não precisamos mimar os filhos para terem expectativas irreais sobre a vida, não precisamos puni-los para acreditarem que sua vida será um saco de pancadas.
Para isso, os treinos de auto-controle nos cães tem como base mostrar, essencialmente, que tudo terá sua hora, mas não será na hora do cão e, muito menos, com os comportamentos indesejados, como latir, pular, rosnar, etc.
São treinos essenciais, onde o cão ganha mais do que controle, aprende a respeitar e observar mais nossa linguagem corporal e entende de forma mais exata o que queremos dele.
Na minha vivência como adestradora, nunca foi um exercício difícil de alcançar o objetivo, o problema maior é saber tornar a frustração aliada e não inimiga do cão...E nossa também!
Quando falamos em lidar com frustração em cães, é preciso sensibilidade.
Os critérios são pequenos no começo e vão gradativamente aumentando. É possível regredir alguns passos, mas nada que não faça parte.
É provável que fique difícil, mas nada que a insistência no desafio não faça com que flua naturalmente.
O que não podemos deixar acontecer é que a frustração humana entre em jogo e nos faça concluir que "ele não consegue", "ele é burro", "ele não foi feito pra isso" ou ainda "eu não vou judiar dele fazendo ele esperar pela recompensa", "Isso é muito difícil pra ele, tadinho!".
Acredito que judiar é não dar ferramentas para ver os desafios com vontade nos olhos, na busca pela conquista, e achar que a vida está entregue.
Para um cão, cada busca nossa é uma conquista final para eles. Os desafios são vividos mais intensamente no presente. É um privilégio trabalhar com essa motivação.
Somos movidos a desafios e a tudo que nele contém: obstáculos, realizações e frustrações. Buscando equilíbrio nesse tripé.
Viver não é sentar no banquinho e ver a vida passar sem experimentar desses sentimentos. Nem para você, nem para o seu amado cão.