Se existe um ser vivo neste planeta que saberá quando você está no modo ON e OFF esse ser, com certeza, é seu cão (acredito que ganham até de nossas mães nesse quesito).

Como os tutores já bem conhecem essa competência de seus amados cães, não é novidade dizer que eles são verdadeiros mestres da leitura de nossa linguagem corporal, de nossas micro expressões faciais e, principalmente, do entendimento de nossa rotina e hábitos.

Nada foge da sensibilidade deles quando somos nós sua principal fonte de estudo e observação.

"Quando você está, ele é outro cão, nem parece o mesmo!" Sim, essa é a frase que mais costumo escutar. A presença da minha figura nas casas traz o modo ON para esses cães: "É hora do treino!" É claro que não temos como fugir da intensidade do momento de treino com a figura do adestrador, porque é essa objetividade que nossa presença traz.

Não trazemos um peso de referências divergentes, como:  "...É ele que de vez em quando deixa eu subir na cama quando faço aquela carinha." ou então: "...É ele quem me dá um pedacinho de seu bife quando deito daquele jeitinho que ele A-D-O-R-A".

Costumamos ser a figura do preto no branco: "É ele quem me dá petiscos quando executo tais comportamentos."

Parece um cenário que todos os amantes de cães, que se consideram os verdadeiros "mimadores", não conseguem ver uma saída ou não conseguem enxergar um caminho e acabam taxando seus cachorros como interesseiros ou até dissimulados, no modo OFF, fora dos treinos.

Na verdade, eles só são mesmo bem inteligentes. Você pode estar subestimando seu potencial (do cão e seu).

O momento OFF deve ser também o momento de aprendizagem e não de discrepância com o momento ON.

Para isso, a ideia de incorporar comportamentos devidos e dos quais amamos que eles executem no dia a dia nada tem a ver com a ideia de uma escola tradicional, com horários de aula, recreio, mais aulas e depois, liberdade!

É mais como a ideia de uma dança. Um dançarino dedicado treina, mas não vê que fora do seu "habitat de treino" a vida é repleta de regalias, mas sim de trocas.

Tudo que é feito fora dos treinos reflete no momento de treino. Alimentação, postura, escolhas triviais. Dançarinos não perdem um momento para se alongar e garantir que estão dedicados a seu corpo e mente. A recompensa é o condicionamento.

Você não é o professor chato do colegial. Nem o professor permissivo que deixa passar cola debaixo da carteira.

Seja o professor de dança de seu cão.

Afinal, não existe maneiras de driblar o condicionamento do corpo e da mente. Mostre as recompensas momentâneas de se treinar ao longo do dia e que, cada escolha (sua e dele) refletirá na resposta final do treino ON. Faça com que a dança seja conduzida com leveza.

Não pode ser dura, precisa de paciência. Não deve ser chata, mas deve ser repetitiva. E, além de tudo, precisa ser prazerosa.

Cães com treinos consistentes na rotina, são os dançarinos dedicados gratos a seus professores humanos, seus pais, não seu adestrador. Nós só ensinamos os tutores. Os responsáveis por resultados são vocês, que convivem com eles em todos os momentos, ON e OFF.

Trocar o que não gostamos que eles façam no modo OFF por algo que gostamos que executam no modo ON em troca do mesmo benefício (como petiscos, subir na cama, passear, etc) é uma troca mais justa e consciente.

A dança flui, a parceria aumenta e a conexão transborda.