Porque não punir os cães e nenhum tipo de latido?
Quem viu meu post no Instagram, sabe que os latidos são um idioma a parte dentro da linguagem canina.
Não vai adiantar falar sobre os tipos de latido se não ficar claro o porquê não punir os cães, incluindo os latidos (por mais incômodo que seja)
Pra explicar, vou usar um caso real de atendimento presencial: o caso do Beagle Thor, com os latidos incessantes quando sozinho.
Sua tutora passou por 2 adestradores antes de chegar até mim, pois os latidos eram tão incômodos que ela colecionava multas do condomínio e criou inimizades no prédio por conta do Thor (a gente bem conhece o talento nato dos Beagles para latidos né).
Na primeira tentativa, a “ferramenta mágica” era uma coleira que emitia um apito assim que sentia as vibrações da corda vocal do Thor.
Funcionou? Não!
Sabe porquê? O apito até incomodava o Thor, no começo diminuiu pouco os latidos, mas logo eles voltaram com tudo. Aconteceu com o Thor o que chamamos de dessensibilização.
Pra resumir, você já deve ter usado alguma forma de repreensão com seu cão e com o tempo você se viu tendo que potencializar a repreensão porque ele já não “respondia bem” como antes. Quando vai ver, tá gritando cada vez mais alto, dando trancos cada vez mais fortes e por aí vai.
A punição ineficiente que só leva a mais stress para nós e para os cães.
Quer o pior efeito colateral que essa coleira gerou? A Channel, a outra vira lata que mora na casa junto com o Thor e o maltês Gohan, começou a ter crises nervosas com o apito emitido pela coleira do Thor.
Ela passou a ter episódios constantes de vômitos. Para ela, o som era insuportável. A tutora identificou o motivo dos vômitos, pois ela passou a vomitar assim que a coleira era colocada no Thor, o que chamamos de Condicionamento Clássico, pela repetição o cão já sabe o que virá daquele estímulo e seu corpo já reage a ele. Seja algo bom ou ruim. Ela já passava mal sabendo o que viria daquela coleira.
A próxima tentativa “mágica” foi a coleira eletrônica. Como quem usa diz, são “leves desconfortos” para interromper o comportamento. Sem nenhum som para incomodar os outros cães e mais desconfortável que o apito a ponto de não causar a tal dessensibilização, parecia que ia funcionar, já que o Thor interrompia o latido imediatamente, assim que a coleira vibrava durante os treinos.
Uma observação importante:
Aposto que nessa hora a maioria pensa: “Que absurdo! Uma coleira de choque!”
Sim, é um absurdo, mas não se iludam, não difere da intenção de qualquer outra punição. Seja um “não!” mais firme, seja um “toque” no cachorro, seja um tranco na guia, enfim.
Toda punição carrega o mesmo objetivo e toda punição DEVE causar desconforto ao cão para que o comportamento seja interrompido.
Definir o que é desconfortável ou não é pelo ponto de vista do cão e não nosso julgamento sobre. Para alguns cães, um apito pode não ser nada, para outros algo traumático, como aconteceu com a Channel e Gohan.
Já atendi cães que tremem e fazem xixi de medo, só de ver a cara feia dos tutores.
Agora voltando ao caso...
BINGO! A coleira eletrônica funcionou! Os latidos do Thor pararam...O problema foi resolvido?
Definitivamente não! Piorou! Thor que parou de latir com a coleira começou a destruir todos os móveis, roer todos os cantos de parede e arranhar a porta! Algo que não fazia antes. E porque?
Porque o latido era um apenas um meio de comunicar o stress e a Ansiedade de Separação!
Quando tratamos o sintomas sem saber a causa, pioramos a própria doença. Ele apenas redirecionou o stress para outro comportamento.
Imagina só como ficou ainda pior o quadro: ele que já ficava extremamente ansioso por ficar sozinho, passou a ficar com ainda mais medo porque coisas ruins acontecem, como choques e apitos.
O estado emocional importa e punição nunca leva isso em consideração.
Para esse tipo de latido, entendemos o seu significado, no caso, claramente sinalizava a Ansiedade de Separação. Então, trabalhamos na Ansiedade e não no latido. O treinamento positivo foi baseado no significado do latido e não nele, em si.
Para saber mais sobre a Ansiedade de Separação, leia aqui e aqui.
Se você entendeu a importância do significado dos comportamentos, pode acreditar que você entendeu a parte mais importante do trabalho de modelagem comportamental e, principalmente, entendeu ainda mais o seu cão.