Sobre Latidos - Estrelando Petit
Pode parecer óbvio, mas o latido é um sinal de comunicação, natural e instintivo. Ter clareza disso é fundamental pois, antes de pensar em como resolver este ou aquele latido, é preciso entender o que ele está querendo comunicar com esta vocalização.
A vocalização está relacionada à emoção dos cães, é uma forma de expressão, assim como sua linguagem corporal.
Pode incomodar e atrapalhar, sim. Mas não por isso devemos pensar no extermínio sem antes pensar no significado.
Para estrelar este post trouxe a Petit, uma Yorkie que treinei que latia incessantemente, sem motivo aparente. Ela é um bom exemplo do porquê as punições aos latidos NÃO resolvem o problema.
Ela foi treinada anteriormente com base no spray de agua e barulhos de latinha, assim que ela emitisse os latidos. A punição surtiu efeito rápido, porém temporário. Ela voltou a latir e latia cada vez mais.
Além dela, tive outros casos que atendi com a mesma questão, os latidos, e com as mesmas tentativas frustradas, a punição não resolveu. Em um outro caso, o Thor (um beagle que contarei a história em um próximo post) era punido por latir por meio da coleira eletrônica e passou a destruir móveis e objetos da casa, ou seja, a punição até agravou o problema.
Mas porque isso?
Porque, como em toda situação aonde há a punição, não há sentido. Não há clareza. Se os latidos são sinais, faz muito mais sentido entender quais seriam estes sinais: Nervosismo? Insegurança? Excitação? Ansiedade? Tédio? Stress? Ou então, o mais famoso: para chamar atenção?
Punir não entende a emoção, pelo contrário, impede o entendimento. Gera mais frustração ao cão. Foi o caso da Petit.
Para falarmos deste caso, vamos entender o que motivava ela a latir, entendendo um pouco mais sua rotina:
- Ela não tinha rotina de passeio
- Tinha refeição oferecida no pote e que ficava disponível
- Ela não era sociável: insegura em relação a outros cães
- Não sabia brincar (não interagia com brinquedos)
- Ela tem 5 anos, ou seja, este comportamento estava instaurado durante muito tempo
- Possessiva com relação à cama dos tutores
- Latia para ganhar atenção da tutora, a todo momento
- Generalização das situações-gatilho: tudo era motivo para disparar os latidos. O latido se tornou principal fonte de comunicação
Uma das principais medidas na hora de entender os latidos, é entender seu contexto: em quais situações late. Isso porque nos auxilia em premeditar e trabalhar na antecipação do comportamento. O que não dava para discriminar tanto no caso da Petit.
E agora?
Sua tutora dedicada buscava, cada vez mais, compreender e ajudar esta pequena. Fomos entendendo com as aulas que não se tratava só dos latidos, mas de seu alto nível de energia e sua rotina com poucos estímulos, até por conta das possibilidades restritas, devido à sua baixa socialização e pouca aceitação dos passeios.
Vamos falar dos pontos importantes que trabalhamos com a Petit:
Estimulação Mental + Enriquecimento Ambiental
Pode parecer que por ser uma Yorkshire ela não tinha um alto nível de energia. Puro engano. Essa pequenina era MUITO ativa e respondia muito ao treino. Tínhamos muitos obstáculos como o passeio, a socialização e a falta de interesse nas brincadeiras. Tentamos implementar, aos poucos, estas atividades de forma positiva na rotina.
O que mais nos auxiliou foram os comandos: ensinamos o treino de caixa com sua bolsa de transporte, ensinamos a usar os brinquedos como target (tocar no brinquedo que estava longe e voltar para buscar a recompensa), comandos diversos de obediência, principalmente treinos de auto controle, como Fica, Espera e não pegar os petiscos do chão antes da liberação. Ensinar coisas novas a ela era uma fonte de estimulação e prazer!
A alimentação deveria ser oferecida 100% em treino e em brinquedos comedouros
Troca de atenção = Proatividade
É muito comum os cães latirem para chamar nossa atenção ou ganhar algo. Nós sempre reagimos à este comportamento, não importa como. Seja olhando feio, encarando, falando “não”, conversando com o cachorro, chamando, etc. Em resumo, eles treinam muito bem seus humanos a responderem ao seu comando “latido”, não é?! Rsrsrsrs
Não importa quanto tempo ela passa latindo, Petit deveria ganhar a melhor atenção na fração de segundo que mantinha-se em silêncio. Tudo que ela mais queria: carinho, colo, atenção, deveria ser dada na hora do silencio. Paramos de REAGIR, para sermos PROATIVOS. Isso faz toda a diferença e, sem duvida, dos treinamentos é o mais difícil, pois sugere que ignoremos os cães quando o comportamento de latir para ganhar atenção vem. Afinal, foi algo que foi reforçado por nós em algum momento da vida deles. Lembre-se: antes, é preciso garantir que o cão esteja cansado, ou seja, satisfeito de estimulações para não confundirmos os motivos dos latidos.
A regra é: Pare de responder ao latido de atenção. Veja os sinais antecedentes ao latido e aja antes dele precisar latir.
Possessividade: uma vitória dos treinos anteriores
Como vitória com todas as trocas positivas construídas durante o treinamento, o desafio que mais temíamos, mas não menos importante, conseguiu ser realizado pela tutora sem muita dificuldade: fazer ela dormir em sua caminha, para não manter a possessividade com a cama dos tutores. Ela conseguiu fazer com que a Petit respeitasse quando fosse colocada na caminha dela, sem ficar latindo insistentemente para subir!
Ela diminuiu muitos os latidos, familiares perceberam a melhora de comportamento da Petit de longe e o que aumentou foi a conexão entre elas.
E aí: que tipo de resultado você quer construir com seu cão? Aquele que SÓ resolve de imediato o problema e depois piora o comportamento? Ou quer a vitória que vem com o entendimento, com a paciência e a dedicação e te entrega mais do que o resultado final, entrega conexão com seu cão?